Diretora do maior hospital do RN pede exoneração e secretário aceita

Maria de Fátima Pereira Pinheiro disse que está cansada de sofrer pressão.
Secretário ainda não definiu quem assume o Walfredo Gurgel.

  G1 RN

Maria de Fátima Pinheiro, diretora do Hospital Walfredo Gurgel (Foto: Ricardo Araújo/G1)Maria de Fátima Pinheiro, diretora do Hospital Walfredo Gurgel (Foto: Ricardo Araújo/G1)
A diretora do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, em Natal, maior unidade pública de saúde do Rio Grande do Norte, pediu exoneração do cargo. A informação foi confirmada pela própria Maria de Fátima Pereira Pinheiro. “Solicitei minha exoneração porque não aguento mais tanta pressão. Estou cansada, adoecendo. Preciso de qualidade vida”, disse ela. O secretário de Saúde, Isaú Gerino, disse ao G1 que aceitou o pedido. “Aceitei, mas ainda vou conversar com a governadora Rosalba Ciarlini para definirmos o substituto para o cargo”, declarou. 

A médica informou também que fica como diretora do Walfredo Gurgel até que a decisão seja publicada no Diário Oficial do Estado. “Assim que escolhermos o novo nome a exoneração será publicada e então anunciaremos quem será o novo diretor do hospital”, acrescentou o secretário.
UTIs lotadas
Com experiência de 25 anos de atuação como plantonista do Pronto-Socorro Clóvis Sarinho, Fátima Pinheiro assumiu a direção geral do Walfredo Gurgel no dia 23 de junho do ano passado. Médica especialista em cirurgias gerais, ela explicou que outro fator que motivou seu pedido para deixar a direção do hospital é que todos os dias oficiais de Justiça vão à unidade exigir vagas para pacientes em UTIs. “Vagas que não existem”, rebateu. “O cargo de diretor tem muita pressão. Por isso comuniquei ao secretário de Saúde a minha desistência do cargo”, acrescentou.
No final do ano passado, a diretora chegou a ser notificada e ameaçada de pagar multa caso não disponibilizasse, em caráter de urgência, vaga em uma das UTIs do hospital. A multa, segundo ela, poderia chegar a R$ 10 mil por dia caso ela não conseguisse o leito. O Walfredo Gurgel possui 50 leitos de UTI, mas que permanentemente estão ocupados, com corredores e centro cirúrgico superlotados.
Desabastecimento
Na semana passada, um fato inusitado chamou mais uma vez as atenções para o Hospital Walfredo Gurgel. O desabastecimento de insumos levou um médico a terminar uma cirurgia torácica com fio de nylon. A cirurgia foi há duas semanas e foi gravada em vídeo pelo cirurgião Jeancarlo Cavalcanti, que também é presidente do Conselho Regional de Medicina do estado. No vídeo, ele reclama da falta de fio de aço.
"Fio de aço? Como é que eu vou fechar aqui, ó? O tórax está aberto aqui, ó. Tenho que fechar isso aqui com fio de aço. Eu não tenho fio de aço para fechar isso aqui. Como é que eu vou fechar este paciente? Não tem como eu fechar. No Walfredo Gurgel não tem fio de aço. O paciente está aberto e eu não tenho como fechar. De quem é a culpa disso? Fio de aço custa muito barato", diz o médico no vídeo.
Após a exibição do vídeo, o médico foi denunciado pelo secretário Isaú Gerino ao Conselho Federal de Medicina e ao próprio Conselho Regional de Medicina. “Fui alvo das denúncias, acusado de ser antiético, porque falei a verdade. Dizem que imagens valem mais que mil palavras, por isso decidi mostrar o caos em que se encontra a nossa saúde. Foi isso o que eu fiz”, defendeu-se Jeancarlo.

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