Zé Ivan: o pescador que passou 3 dias no mar dentro de uma caixa de isopor


O desaparecimento dos dois pescadores de Areia Branca, Francisco Antônio e Manoel Anxieta, desde o último dia 23 de abril, tem comovido quem se depara com a história no interior do Rio Grande do Norte.
A jangada dos dois “Navegantes”, que dá nome ao barco, foi encontrado alguns dias após o sumiço, o que tornou o caso ainda mais tenso. Até agora, nenhum os dois não foram encontrados e a Marinha do Brasil cancelou as buscas.
Para a família, estão sendo dias de desespero e incerteza. Diante disso, o MOSSORÓ HOJE foi em busca de histórias parecidas e que tiveram um final feliz.
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Viajamos até à cidade-praia de Tibau, a 55 quilômetros de Mossoró, região Oeste potiguar, e encontramos o pescador José Ivan da Silva Soares, de 48 anos, que passou por situação parecida há pouco mais de 30 anos.
Pescador desde menino, Zé Ivan, como é conhecido, enfrentou aos 15 anos seu primeiro naufrágio, o primeiro de muitos, mas o pior deles.
Com riqueza de detalhes, o pescador conta como tudo aconteceu e se denomina um sobrevivente da maré.

“Eu estava no barco com mais três amigos, estava um vento forte, isso era um sábado, quando a gente virou eu 
consegui ficar dentro de uma caixa de isopor, passei uns três dias naufragado no mar”, revelou.

Os três colegas que estavam com Zé no barco logo conseguiram ser resgatados. Mas, Zé Ivan não teve a mesma sorte. O pescador ficou dentro da caixa de um sábado até a segunda. Ele saiu para o mar na praia de Tibau, onde morava e mora até hoje. Mas, só foi resgatado na praia de Redonda, no município de Icapuí, no Ceará, apenas três dias depois do ocorrido.
A caixa tinha por volta de dois metros e era usada para colocar gelo e até peixes. “Fique sem beber nada e sem comer nada, nada, nada, nada”, frisou ele.
Zé conta que só lembra de uma caravela que passou por ele e após ele caiu na água. “Depois disso não lembro de mais nada, quando acordei já estava na praia de Redonda com um bocado de gente ao meu redor”, declarou.
O pescador revela que na hora que acordou na praia não conseguia falar, mas ouvia tudo o que os moradores diziam. “Disseram assim: vamos dar um banho quente nele. Não tinha resistência de nada. Só estava de calção e ruído de barata. E eu só ouvindo”, disse.
Após ser encontrado, Zé Ivan recebeu cuidado de moradores da praia de Redonda. Tomou um banho quente, vestiu roupas limpas, mas ainda não conseguia falar. Só conseguiu após tomar um copo de leite quente. Falava com dificuldade e um pouco “ariado”, como se diz no linguajar popular.
Enquanto isso, em Tibau, familiares de Zé Ivan lamentavam o sumiço do pescador. “Já estavam cavando a minha cova, mamãe já sabia que eu tinha virado, já tinham chegado os dois e eu não tinha chegado”, disse.
Após conseguir pronunciar algumas palavras, Zé explicou que morava em Quitéria, Ceará. Os moradores conseguiram um carro e iriam deixar Zé Ivan em casa. “Perguntaram se eu queria ir para o hospital, mas eu só queria ir para casa”, afirmou.
No meio do caminho, a surpresa: Zé se lembra que não é Quitéria, e sim de Tibau. “Nessas alturas eu acho que mamãe já morreu”, eu falava durante o trajeto.
Ao chegar na entrada de Tibau, na divisa com Icapuí, havia muita gente, principalmente na rua onde morava a mãe do pescador, revelou.
Zé Ivan disse que nem lembra como foi levado para dentro de casa. Sua mãe e familiares choravam muito. O reencontro foi só alegria.
“Foi Deus. Eu via Deus na vista. Eu via ele dizendo ‘você num vai morrer não’”, revelou, completando: “Deus é bom demais”.
Após chegar em casa, Zé passou cerca de dois meses em recuperação, se sentia fraco. Mas, contou com o apoio da família e amigos.
Depois desse naufrágio, Zé já naufragou mais duas vezes. Mas, nenhuma delas se comparava à primeira vez.
Atualmente, a pescaria é a única fonte de vida de Zé Ivan e de sua esposa Ceição e suas duas filhas. “Dá para ir levando”, completa.
Mesmo com os desafios que é viver no mar e o perigo do naufrágio. Zé Ivan se diz feliz com sua profissão. “É o que eu sei fazer e vou ser pescador para o resto da minha vida”, conclui.
Por Valéria Lima

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