Antiga São Rafael foi inundada pelas águas da Armando Ribeiro há 30 anos.
Nível do reservatório chegou a 25% da capacidade, o mais baixo da história.

Ruínas da antiga São Rafael, inundada durante a construção do maior reservatório do Rio Grande do Norte,
tornaram-se atrações turísticas. A 'Atlântida do Sertão', como foi
apelidada a velha cidade, ressurgiu por causa da longa estiagem que
atinge o estado. As águas baixaram tanto que revelaram o que restou de
alguns dos prédios encobertos há mais de 30 anos pelas águas da
barragem. A igreja e o cemitério estão lá. Na época, segundo o
Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs), 730 famílias
tiveram quer ser reassentadas em um ponto mais alto do município.
Para ver de perto os efeitos da estiagem no interior potiguar, equipes do G1 e da Inter TV Cabugi
percorreram aproximadamente 1.400 quilômetros durante cinco dias. Foram
visitadas 19 cidades no Seridó e Oeste – regiões que mais vêm sofrendo
com a escassez. Em colapso no abastecimento d’água estão Acari, Antônio Martins, Carnaúba dos Dantas, Currais Novos, João Dias, Luís Gomes, Paraná, Pilões, Riacho de Santana, São Miguel e Tenente Ananias.
Já em Apodi, Caicó, Jucurutu, Lucrécia, Parelhas, Pau dos Ferros
e São Rafael, foi constatado que o nível dos açudes e reservatórios vem
baixando rapidamente e que a paisagem está mudando a cada dia,
incluindo a barragem Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves, que fica em
Itajá. Com capacidade para armazenar até 2 bilhões e 400 milhões de
metros cúbicos de água, a barragem possui atualmente 25% deste total. É o
mais baixo volume dos 30 anos de sua história.
No fundo do reservatório, é possível chegar de carro até a velha igreja
da cidade. Ela ainda tem as fundações submersas, mas dá pra subir nos
escombros. Já o antigo cemitério, reapareceu por completo, revelando
túmulos e cruzes. Casas, lojas e até o que um dia foi um posto de
combustíveis também estão aparentes.

O servidor público Luiz Tertuliano, de 59 anos, mora na vizinha cidade
de Itajáx. Ele foi a São Rafael e desceu até a cidade antiga só para ver
as construções. “Estive aqui em 2010. A água batia no teto da igreja e a
cúpula ainda estava de pé. O cemitério é novidade para mim”, revelou.

A nutricionista Elizabeth Noronha, de 35 anos, saiu de Natal
bem cedinho só para ir conhecer as ruínas, que ficam a pouco mais de
210 quilômetros da capital. Ela contou que amigos estiveram recentemente
em São Rafael e ficaram maravilhados com a ‘Atlântida do Sertão’,
apelido que a antiga cidade ganhou em alusão à lendária ilha da
antiguidade. Nos contos de Platão, Atlântida teria afundado em algum
ponto desconhecido do oceano Atlântico. “Fiquei curiosa. Como não posso
ir a Atlântida da mitologia, vim conhecer a Atlântida dos nordestinos”,
brincou.

Quem está tirando proveito das ruínas, para não dizer do baixo volume
da barragem, é o comerciante Isaías Leopoldino Tavares, de 75 anos. Na
nova cidade, ele possui um bar. Contudo, depois que a antiga cidade
começou a atrair visitantes, ele montou uma barraca bem pertinho das
construções. “A água vai baixando e eu vou junto”, disse ele.

Leopoldino Tavares, de 75 anos
Na barraca, Isaías vende cerveja, refrigerante, peixe e batatas fritas.
“E tem água também”, sorriu. “Nos fins de semana isso aqui fica lotado.
Dá pra fazer um dinheirinho”, acrescentou. “Chego a ganhar uns R$ 1
mil”, revelou.
O comerciante contou que morou na antiga cidade, mas que a casa onde
cresceu ainda está embaixo d’água. “Era mais lá pro meio”, apontou.
“Tivemos que ir embora por causa da obra da barragem. Fui morar em Serra do Mel
na época. Faz 12 anos que voltei. Prefiro ver o açude cheio, mas sinto
saudade quando olho e vejo as casas aparecendo”, destacou.
Emergência
Segundo o serviço de meteorologia do estado, esta é a pior seca dos últimos 100 anos. E para o ano que vem as previsões não são otimistas. Dos 167 municípios potiguares, 153 estão em estado de emergência em razão da estiagem prolongada. Destes, 122 são abastecidos por caminhões-pipa. O decreto foi publicado pelo governo do estado no dia 28 de março deste ano e tem validade de 180 dias. Segundo o documento, as chuvas ocorridas no segundo semestre do ano passado e início de 2015 foram insuficientes para a formação de estoques de água potável nos reservatórios.
Segundo o serviço de meteorologia do estado, esta é a pior seca dos últimos 100 anos. E para o ano que vem as previsões não são otimistas. Dos 167 municípios potiguares, 153 estão em estado de emergência em razão da estiagem prolongada. Destes, 122 são abastecidos por caminhões-pipa. O decreto foi publicado pelo governo do estado no dia 28 de março deste ano e tem validade de 180 dias. Segundo o documento, as chuvas ocorridas no segundo semestre do ano passado e início de 2015 foram insuficientes para a formação de estoques de água potável nos reservatórios.

Para decretar a emergência, o governo consultou a Empresa de Pesquisa
Agropecuária do RN (Emparn), que previu chuvas abaixo da média histórica
para este ano, além de também levar em consideração os R$ 3,8 bilhões
de prejuízo causados pela escassez hídrica em 2014.

Fonte : G1/RN
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