Brasileiro já passou fome e lutou por R$ 100. Agora, é 'milionario' e recordista no UFC

Gleison Tibau encara Norman Parke neste domingo, no UFC Fight Night: McGregor vs. Siver
Gleison Tibau encara Norman Parke neste domingo, no UFC Fight Night: McGregor vs. SiverQuando deixou a pequena Tibau, no interior do Rio Grande do Norte, Janigleison Herculano Alves não podia imaginar que se tornaria o brasileiro com mais lutas no UFC. Em sua terra natal, chegou a passar fome e lutar por R$ 100, em rotina incomparável com a que chega para mais uma luta neste domingo.
Prestes a fazer seu 24º combate na maior organização de MMA da atualidade, Janigleison é Gleison Tibau, como ficou conhecido fora de sua cidade, e já acumula 15 vitórias no evento, o mesmo número de nomes consagrados, como Jon Jones ou Tito Ortiz, e apenas uma a menos que Anderson Silva.
Números que, sozinhos, impõem respeito, mas que impressionam ainda mais quando Tibau relembra seu passado. "Tive que passar alguns dias de fome, vivendo cada dia no suor, dormindo em tatame na academia", contou, ao ESPN.com.br, lembrando o "batismo" igualmente difícil nas lutas.
"Quando comecei, há 15 anos, era Vale Tudo ainda. Só de sunga, sem regras, três lutas em uma noite. No outro fim de semana, já tinha outro circuito. Valia uma moto, um carro ou dinheiro. Era muito competitivo, osso duro... A gente não tinha estrutura nenhuma. Lutava por 100 reais", seguiu.
O momento para quem se aventurava a ser lutador também era outro. Se hoje, o UFC está na TV aberta e movimenta milhões de dólares; naquela época, quem ditava as regras era o preconceito. A própria família de Tibau - ainda apenas Janigleison Herculano Alves - não entendeu bem seu sonho.
"Foi um choque para os meus pais, amigos, família. A sociedade achou que eu era vagabundo. As pessoas me olhavam diferente. ‘Isso não é profissão, é selvageria'. Ouvi isso muito e me deixava triste. Ninguém valorizava. Esse crescimento do esporte colocou a gente em outro patamar", afirmou.
Gleison Tibau estreou no UFC 65, com derrota para Nick Diaz
Estreia no UFC: derrota para Nick Diaz, em 2006A nova realidade a que Tibau se refere é também financeira. Se, no passado, a luta era por R$ 100, hoje a remuneração é muito maior. Em sua última luta no UFC, em setembro de 2014, o lutador saiu com cerca de R$ 310 mil, incluindo seu salário e bônus por vitória e pela melhor luta da noite.
Segundo levantamento do site 'MMA Manifesto', Tibau já acumulou quase um milhão de dólares só com suas lutas desde que chegou ao UFC - mais precisamente US$ 945 mil. A cifra é superior, por exemplo, à acumulada por Chael Sonnen em seus combates - desprezando, claro, ganhos de publicidade.
Mas, como nada foi fácil para o lutador, a vida ainda segue lhe pregando algumas peças, como em dezembro, quando teve a casa na Flórida, nos Estados Unidos, assaltada. "Foi numa segunda-feira. Cheguei em casa tinham levado tudo, eletrônicos, contas, cartões, cheques, roupas, tênis..."
Na sequência, o mais irônico: "Na sexta-feira, voltaram e roubaram o carro", lembrou, já conseguindo rir do episódio, mas sem esquecer do susto. "Pelo menos ajudou a pegar a gangue, que já tinha roubado outros vizinhos. Estava com medo, mas depois fiquei aliviado. Agora, é foco total na luta".
O combate é contra o irlandês Norman Parke, neste domingo, no TD Garden, em Boston, em luta que o brasileiro aceito há cinco semanas. O pouco tempo de preparação não incomoda Tibau, que admite que quer se tornar o lutador com mais aparições em toda a história do UFC.Getty
No UFC 68, Gleison Tibau conseguiu a primeira vitória, sobre Jason Dent
UFC 68: a 1ª vitória, sobre Jason Dent 
"É pouco tempo, mas como eu já estava treinando, aceitei. 2015 vai ser um ano histórico, vou me tornar o cara com mais lutas no UFC", disse. "É um sonho para qualquer lutador do mundo ter esse número de lutas. Estou com 31 anos, me sentindo jovem. Esses recordes todos eu quero quebrar", continuou.
Com 24 lutas, Tibau igualará marca de Randy Couture no UFC, ficando a uma de Matt Hughes (25) e a três de Tito Ortiz, que é o recordista, com 27 aparições no evento. Em número de vitórias, o brasileiro tem 15, uma a menos que Anderson, e quatro abaixo de Georges St-Pierre, o recordista.
Ainda que esses números o seduzam, o peso leve sonha mesmo com outro reconhecimento, que nada tem a ver com o MMA. "Quando sai da minha cidade, prometi a mim mesmo que ia fazer minha história, lutar e voltar para Tibau estruturado. Eu vou gerar emprego nessa cidade", imagina o lutador.
"Estou fazendo investimento para abrir um grande empreendimento na cidade, para gerar empregos. Não é como político, dando dinheirinho aqui e ali. Quero dar emprego para o povo. Foi muito difícil para mim, fui passo a passo. Sei o quanto foi duro, mas sei do que o ser humano é capaz", complementa.
O projeto já tem data para começar: em nove anos, quando o atleta pensa em se aposentar. "Quero ver cada pai de família conquistando seu espaço. Isso vai ser meu maior prêmio", sintetiza.
 http://sportv.globo.com/site/combate/noticia/2015/01/tibau-ve-brechas-de-parke-no-chao-e-projeta-bater-recorde-no-ufc-em-2015.html
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