Durante as madrugadas, os pescadores da Praia de Redonda têm que ficarem alerta, pois a maré pode levar suas jangadas
Icapuí O
mais castigado município litorâneo do Litoral Leste sem dúvida alguma é
Icapuí. Em dezembro último, a Prefeitura decretou calamidade pública em
quatro praias: Barrinhas, Barreiras da Sereia, Peroba e Redonda. Só com
obras para defender o continente do avanço do mar, serão utilizados
recursos do Ministério da Integração Regional da ordem de R$ 20 milhões,
sem se falar o que já foi gasto para remoção de famílias no programa
Minha Casa, Minha Vida.
O
visitante que chega até a Praia de Barreiras da Sereia não deixa de se
impressionar com o impacto causado pelas cenas de destruição. A maré
arrastou coqueiros, barracos, casas, posto de saúde, escola, estrada e
até algumas barragens colocadas pela comunidade na tentativa de impedir o
avanço do mar. O trecho da praia mais se assemelha a uma cidade
fantasma.
O
pedreiro Jorge Henrique Santos da Cruz, 25 anos, é um dos milhares de
jovens que passaram pela escolinha municipal da localidade. Ele lembra
com saudade o tempo de estudante. "Durante quatro anos, aprendi muita
coisa do que sei hoje nesse espaço", diz, apontando para os escombros da
escolinha. "Aqui existiam três salas de aula, dois banheiros e um
pequeno refeitório. O mar levou tudo".
O
que ocorreu não foi surpresa para os avós de Henrique. "Eles sempre
insistiam nessa história de que um dia a maré chegaria até o continente.
Quando o mar vinha se aproximando, a comunidade tentou por conta
própria adotar algumas medidas para tentar barrá-lo, como a construção
de barreiras de pedras. Foi tudo em vão. Aqui mesmo próximo à escola
tinha um estacionamento para 15 carros e um campinho de futebol, além da
estrada. Tudo foi embora".
Em
Redonda, uma cena no mínimo curiosa: jangadas e veículos disputam o
mesmo espaço na pista. Isso ocorre pelo fato de metade da via ter sido
engolida. O pescador Carlos Antônio da Silva, 58 anos, revela que a
preocupação de todos hoje em dia é de que o posto de saúde localizado na
rua que teve uma parte destruída possa ter o mesmo fim. "Será mais um
prejuízo enorme para a comunidade. Somos pobres e não temos condições de
pagar uma consulta particular. Pior ainda é se o avanço derrubar os
postes de iluminação, o que não está longe de acontecer", frisa Carlos
Antônio.
Jangada
O
irmão do pescador, o aposentado João Evaristo da Silva, 65, alerta para
uma outra preocupação. "Os pescadores correm o risco de perderem o seu
bem mais importante, que é a jangada. O mar vem avançando e a gente
guardando a jangada mais perto da pista. Chegou ao ponto que tivemos que
colocá-las em cima do que restou do asfalto. Ainda assim, é preciso
ficar vigilante à noite, pois uma maré forte pode carregar a embarcação
como já aconteceu várias vezes por aqui".
João
Evaristo recorda que, "há 40 anos, a cheia do Rio Jaguaribe trouxe uma
maré gigantesca que invadiu mais de 20 metros rumo à rua. Foi algo
incrível. Levou as embarcações com âncora, ferro e tudo mais. Espero que
não aconteça algo parecido. Hoje, ela vem chegando aos poucos". Na
Praia de Barrinha, o pescador Antônio José da Costa assegura que
"antigamente, existia tantos morros e areia por aqui que era impossível a
gente ver a Praia de Barreiras da Sereia. Com o tempo, eles foram indo
embora e hoje a gente vê perfeitamente quase todo o litoral de Icapuí".
Segundo
seu Antônio, "foi mais ou menos a partir de 2000 que o mar começou a
vir com mais violência. Uma contenção de pedras que havia aqui foi
levada. Em 2011, uma outra foi feita e tem conseguido segurar a pressão.
Só não sei até onde pois, quando a maré bate nas pedras, respinga água
para dentro das nossas casas".
A
dona de casa Marineide Ferreira, que mora na Vila Renata, na Praia de
Barrinha, lamenta a destruição da escolinha da comunidade. "Há seis
anos, a maré levou nossa escolinha que, infelizmente, nunca mais pôde
ser reconstruída. Com isso, as crianças têm que se deslocar dois
quilômetros para estudar". (FM)

Fonte: Diário do Nordeste
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